A Guerra do Paraguai e a política na Freguesia de Uberabinha

Largo do Comércio, cidade de Uberabinha, final do século XIX . Atualmente, início da rua Marechal Deodoro - foto divulgação

No Ano de Nosso Senhor de 1864, estoura a guerra do Paraguai e todo o pais, de sul a norte, estremeceu ao choque dessa notícia que, naturalmente, significava duros sacrifícios de comodidade, dinheiro e sangue.

Nessa ocasião, o Partido Liberal se achava no poder em Uberaba, e por conseguinte, o subdelegado de polícia, João Pereira da Costa Branco e seus suplentes eram liberais. O Juiz de Paz, Manoel Vargas, era uma espécie de camaleão, conservador, quando os conservadores estavam por cima, liberal, quando fossem os liberais a darem as cartas.

Já antes da guerra, havia na Freguesia de Uberabinha, uma companhia isolada de milícia da segunda linha, dos quadros orgânicos do Comando Superior da Guarda Nacional, com sede em Uberaba. A companhia contava com mais de cem alistados, despretensiosos camponeses, sem farda e sem armamento que, periodicamente, eram chamados ao arraial para fazerem exercícios. Comandava essa tropa dispersa o capitão Francisco Alves Pereira, coadjuvado por mais três oficiais subalternos, todos eles do Partido Conservador e da elite local.

Declarada a guerra, o capitão da companhia isolada de Uberabinha recebeu ordens de designar pessoal para a luta e assim foi feito. Só que foram designados, preferencialmente, alistados ligados aos liberais, preterindo os conservadores. Os liberais indignados não aceitaram o pleito. Empenharam-se junto aos líderes da política dominante em Uberaba e conseguiram abafar a deliberação. O comandante ficou sujeito ao conselho de disciplina e o comando da companhia foi entregue a um primeiro-sargento, promovido a alferes logo depois.

O capitão Francisco Alves Pereira apresentou-se ao Comando Superior da Guarda Nacional em Uberaba para responder ao conselho disciplinar mas, como não se apresentou fardado, foi destituído imediatamente do posto. Os liberais festejaram essa destituição como um triunfo partidário.

Foi realizada nova convocação e, desta vez é claro, arrebanhando, preferencialmente, entre os conservadores, chegando-se ao ponto de designar o jovem João Rocha, da família dos Pereiras. João, para ficar livre do infortúnio, teve de comprar e dar um escravo como substituto. Os outros convocados sumiram pelas matas, escondendo-se de barranco em barranco, e o único contingente de guerra fornecido pela freguesia de Uberabinha se resumiu no escravo dado pelos Pereiras, dois índios da outra margem do rio das Velhas, pegos de surpresa quando trabalharam em suas lavouras na margem oposta, e dois voluntários.

Jamais os conservadores perdoaram os liberais por essa falcatrua e dela, nominalmente, faziam responsáveis a Antonio Maximiano Ferreira Pinto, o Pintão, boticário, cirurgião e mestre escolar, e ao padre Almas, vigário da paróquia de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião de Uberabinha, que era tido como cabeça pensante do partido.
Contra esses dois havia ameaças de violência e até começos de motim para botá-los para fora de Uberabinha, o que só não se realizou devido a oportunas interferências de pessoas bem quistas e consideradas da mesma família Pereira, que nessa conjuntura se esforçaram para acalmar os exaltados ânimos.

Para substituir o padre Alma na igreja e o Pinto na medicina, conspiravam os conservadores, bastava um só homem, o padre Joaquim de Souza Neiva, tão bom padre como raizeiro, de forma que os dois poderiam ir embora que não fariam falta nem deixariam saudade. E assim passaram-se alguns meses até que, cada vez mais desgostoso, o padre Almas com uma boa parte do povo, e outra boa parte do povo com o padre Almas, chegou-se à única solução possível. E o padre Almas retirou-se para Uberaba, no ano da graça de 1865.

E o padre Joaquim Neiva? Contam que chegou a ser provisionado e, de fato, exerceu o ofício de Vigário da Paróquia, mas por brevíssimo tempo. De seu paroquiado não existem relatos certos e positivos.

Ao padre Joaquim Neiva sucedeu, no governo da Paróquia, o padre João da Cruz Dantas Barbosa, mais conhecido atualmente como Vigário Dantas, que conduziu os fiéis até seu falecimento em 1890. Foram vinte e cinco anos de um paroquiado benévolo, ordeiro e fecundo.

Planta da Cidade de Uberabinha, década de 1900. Na época da Guerra do Paraguai, a cidade era apenas a área hachurada.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*