A primeira publicação

O que escrever na primeira publicação? Algo forte, arrebatador, que conquiste o internauta para as próximas edições? Vamos criar, então, um suspense sobre as motivações que desencadearam esta primeira criação e começar falando sobre minha relação com a cidade de Uberlândia pois o tema deste nosso blog é, justamente, o que está no título. Vamos contar a História de Uberlândia através de Histórias de Uberlândia, de seu povo que, em pouco mais de cem anos construiu a maior cidade do interior de Minas Gerais e uma das melhores do país em qualidade de vida.

Não sou uberlandense, sou uberlandino. Não gosto dessa palavra, uberlandino, pois o sufixo “ino”, proveniente do latim inus, é diminutivo. Teríamos que criar outra expressão para nos definir, algo que demonstre o apreço pela cidade. Afinal de contas, muitas vezes, aqueles que são adotados dão mais valor à família que os acolheu do que os próprios nativos. Fica a sugestão.

Voltando para as histórias, quero que conheçam João, uberlandense, nascido no início do século XX, barbeiro por profissão, pescador e fotógrafo por paixão, trabalhava em uma barbearia próxima à atual Praça Rui Barbosa. João conheceu Adélia, com quem se casou no início da década de 1930. Tiveram três filhas, Neuza, Sônia e Clarice. Adélia faleceu logo após o nascimento de Clarice. João então casou-se com Antônia e teve outros sete filhos, Orcalino, Oscar, Olga, João, Olinda, Olívia e Antônio (não necessariamente nesta ordem). Os netos, não contei. Os bisnetos, desconheço

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João Motta
Casamento de João e Adélia. Foto arquivo pessoal.
casamento de João e Adélia

 

FAMILIA MOTTA2
Família Motta, com a ausência da filha Clarice, que já havia se casado e mudado para Guaraí.

Sônia, professora desde os 15 anos de idade, conheceu, no vai-e-vem da Praça Tubal Vilela, em meados da década de 1950, José, migrante de Capelinha do Chumbo, que veio para Uberlândia trabalhar em uma oficina mecânica. José e Sônia se casaram em 1960 e mudaram para Coromandel.

sonia
Sônia

 

zé e sonia
Zé e Sônia

 

 

 

 

 

 

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Praça Tubal Vilela, onde aconteciam os famosos vai-e-vem, na década de 1950/1960

É aí que entro na história. Nasci em Coromandel, na madrugada do Reveillon de 1962, à luz de lampião, pois a energia elétrica era desligada às 22:00hs. Devia estar muito confortável dentro do útero pois eu não queria sair. Tiveram que utilizar fórceps para me obrigar ver a luz. Minha mãe contava que, no momento do nascimento, a camisinha de um lampião pegou fogo, enchendo o quarto do hospital de fumaça. Acidentes à parte, minha infância se confunde com Uberlândia. Em todas as férias, vínhamos para cá, de jardineira, em estrada de terra. Parecia uma eternidade a viagem mas valia a pena. Eram 30 dias de convite para o Praia Clube, onde o principal programa era enrugar a pele de tanto ficar na piscina que existia onde hoje é o parque de areia infantil.

Praia Clube, década de 1970. Foto divulgação
Praia Clube, na década de 1970

Minha paixão por fotografia nasceu dentro da casa de meu avô João. Fotógrafo amador, ele tinha nos fundos do quintal, um quarto escuro para revelação de suas fotos. Para uma criança de cinco, seis anos, ficar acompanhando o processo químico onde um papel branco recebia um feixe de luz, era passado em um líquido e depois em outro e, como mágica, uma imagem começava a aparecer aos poucos, impregnando todo o papel. Era uma experiência fascinante.

Natal e Reveillon eram as festas que reuniam a família. Todos os dez filhos de João e Antônia, alguns já casados e morando fora, chegavam e enchiam todo o ambiente. Às vezes, nós, os netos, dormíamos na sala mesmo pois não sobrava cama nos quatro quartos da casa. Mas nada disso tirava o ânimo da festança. Cada família fazia um prato diferente e a comemoração era no quintal, debaixo de uma videira cinquentenária, que cobria quase todo o espaço e ficava carregada de cachos em dezembro. No réveillon, além dos “Parabéns Pra Você” para mim (acho que é por isso que eu nunca tive festa de aniversário) e dos fogos que meus tios preparavam, meu avô pegava sua garrucha e dava vários tiros contra uma parede grossa que tinha na divisa. Talvez até hoje as marcas ainda estejam lá. Todas essas lembranças me emocionam quando desço a rua General Ozório, passo pelo quarteirão abaixo da rua Mercedes Brasileiro e vejo uma casa estilo anos 1950, com janelas de madeira, onde funciona, atualmente, um centro estético.

E, pensando em aliar a paixão pela fotografia com a admiração pela cidade que escolhi para estudar, trabalhar e constituir minha família, inicio este blog. Quem sabe, em um futuro próximo, possamos expandir os horizontes, para contar a história de Minas Gerais, através das histórias de seu povo.

Um grande abraço e até a próxima, com mais Histórias de Uberlândia.

12 Comentários

  1. Adorei sua história, conte com minha presença sempre aqui. Sou Uberlandense e tenho um orgulho e amor imensos pela nossa cidade.

  2. Olá, meu avô Pedro Rodrigues foi o primeiro sorveteiro da cidade de Uberlândia.
    Meu pai nascido em Uberlândia em 21/12/1928, faleceu contando a história da crescente Uberlândia.
    Aqui ele nasceu e viveu por longos anos, mudou-se para o Estado do Goiás, constituiu outra família, que somos nós, e não conseguiu viver longe de Uberlândia. Retornou para sua cidade natal em 1991, com 5 filhos. Somos ao todo 13 filhos, nem todos de Uberlândia, mas amamos essa cidade, como filhos.
    Meu pai foi engraxate ao lado de Grande Otelo e também gravou um disco com as músicas de raiz de Uberlândia.

    Sou muito grata por ser tão bem aceita nesta cidade.

  3. Amei.. sou também de Uberlândia. Filha de Radialistas da antiga Radio Difusora.
    Nini(Aníria Alves SImão) e Capitão Charqueada (Agenor Simão).

    Parabéns…

  4. Parabéns por esta belíssima primeira edição. Certamente está iniciativa irá contagiar muitos outros e em breve teremos aqui a verdadeira história de Uberlândia contada através do olhar e experiência de cada um que aqui vive. Não sou nascido em Uberlândia, mas a família de meus pais é vizinha daqui (Ituiutaba). E vários de meus familiares têm estórias passadas na punjante Uberlândia!

  5. Legal, gostei! Sou uberlandense, mas há 10 anos me mudei de Uberlândia. Sempre visito minha mãe e me surpeendo a cada visita com o tamanho, o trânsito… Poste mais fotos, oois infelizmente, para Uberlândia se tornar o que é hoje os casarões históricos do Fundinho, Tabajaras, Centro, Aparecida, Lídice e Martins foram desaparecendo… Uberlandense não se preocupa com o passado, e assim perdemos nossa identidade cultural… Só depois que me mudei de Uberlândia é que percebi esta realidade…

  6. Muito feliz ,pois tbm conheci parte da familia.Sou da familia Pafumi que morou na General Osorio .Minha mãe Sebastiana Pafumi conheceu toda a familia era muita amiga da D.Iolanda irmã do Sr, João. Tbm conheceu muito Sr João e D.Adélia.Eu sempre coloco pra ela ver as fotos da página da História de Uberlandia e ela ama lembrar daqueles tempos de sua mocidade. Tbm amo ver relembrando quase minha vida passada ali no Fundinho ,na General Osório.Obrigada por nos proporcionar lembranças boas .

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